Capa do livro RUR Robôs Universais de Rossum.

por rogério pietro

Origem da palavra Robô

O mundo deve a palavra Robô ao autor de ficção científica Karel Čapek, que em 1920 escreveu uma peça de teatro chamada RUR – Robôs Universais de Rossum. A palavra deriva da expressão tcheca robota, que significa trabalho pesado. No idioma original da obra, as criaturas sintéticas são chamadas de Robot, e isso tem um significado muito importante no enredo de Karel Čapek.

É interessante notar que o texto original de RUR traz a palavra Robô sempre grafada com “R” maiúsculo, e é também de conhecimento geral que o irmão de Karel, chamado Joseph, sugeriu a ele que os personagens deveriam ser chamados daquela forma.

Em RUR, os Robôs são pessoas sintéticas produzidas em uma fábrica isolada em uma ilha. Eles são vendidos aos milhares para substituir a mão de obra humana em todos os continentes. Muito mais baratos do que um trabalhador humano, o Robô não recebe salário e pode ser substituído por outro como se fosse uma peça de uma máquina. Essas características deram a eles o nome que, no fundo, significa trabalho forçado ou, em uma análise mais fria e atual, escravo.

os irmãos Čapek 

Karel Čapek

Quando Karel Čapek escreveu a peça de teatro que serve de base para incontáveis obras de ficção científica que surgiram durante esse século que se passou, o mundo passava por transformações e problemas imensos. A Primeira Guerra Mundial havia deixado sua marca horrenda na humanidade, tendo terminado em 1918. Como se isso não bastasse, em seguida surgiu a pandemia de gripe espanhola, que durou de 1918 até 1920. E logo ao lado da República Tcheca, a Rússia era convulsionada pela sua Revolução que teve início em 1917 e resultou em uma guerra civil que perdurou até 1921.

Foi no meio desse cenário caótico, cheio de incertezas, fome, intolerância religiosa, racial e política que nasceram os Robôs de Čapek. Eles, os trabalhadores que prometiam uma vida fácil e um futuro glorioso para a humanidade, surgiram como um sonho no meio de um pesadelo global. E, como todo sonho durava pouco para alguém que vivia na Europa em 1920, os Robôs se organizaram em uma espécie de sindicato, exigiram seus direitos e exterminaram os humanos opressores.

Mais tarde veio Isaac Asimov com sua obra fundamental na ficção científica, Eu Robô, lançando para o mundo as Três Leis da Robótica, as quais colocam freios nas atitudes dos seres pensantes artificiais, e garantem a segurança da humanidade.

Além da ficção, a robótica é hoje uma ciência promissora e que pode levar a humanidade a evoluir tecnicamente ainda mais. Um bom exemplo disso são as sondas robóticas enviadas para Marte e outros planetas. Elas nos fazem pensar que é inegável o avanço conquistado com a ajuda de Robôs.

E a melhor parte disso é que não precisamos construir pessoas biológicas sintéticas para ajudar nas fábricas. Ainda assim, a tecnologia de impressão 3D de órgãos humanos está avançando. A promessa de imprimir órgãos saudáveis para transplantes é hoje uma corrida bilionária de empresas de biotecnologia. Sendo assim, talvez seja possível recriar um corpo completo algum dia. O que pode acontecer o dia em que alguém conseguir imprimir um ser humano funcional e completo? Será que veremos o pesadelo de RUR se tornar realidade?

 Como surgiu a palavra Robô?

De acordo com os relatos, a criação da palavra se deu assim:

O autor da peça RUR não inventou, de fato, essa palavra; ele apenas a introduziu na existência. Foi assim: a ideia da peça surgiu a Čapek em um momento único e descuidado. E enquanto ainda estava quente, ele correu imediatamente para seu irmão Josef, o pintor, que estava diante de um cavalete e pintava em uma tela até que ele sussurrou.

“Ouça, Josef”, começou o autor, “acho que tenho uma ideia para uma peça”.

“Que tipo”, murmurou o pintor (ele realmente murmurou, porque no momento estava segurando um pincel na boca).

O autor disse-lhe o mais brevemente que pôde.

“Então escreva”, comentou o pintor, sem tirar o pincel da boca nem interromper o trabalho na tela. A indiferença era bastante insultuosa.

“Mas”, disse o autor, “não sei como chamar esses trabalhadores artificiais. Eu poderia chamá-los de labori, mas isso me parece um pouco intelectual demais.”

“Então chame-os de robôs”, murmurou o pintor, com o pincel na boca, e continuou a pintar. E foi assim mesmo. Assim nasceu a palavra robô; deixe que isso faça reconhecer seu verdadeiro criador.”

Karel Čapek e a ficção científica

Karel Čapek

RUR na República Tcheca.

Edição brasileira de RUR no museu de Karel Čapek, na República Tcheca. Foto: cortesia de Hasan Zahirovic.

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“Então chame-os de robôs”, murmurou o pintor, com o pincel na boca, e continuou a pintar. E foi assim mesmo. Assim nasceu a palavra robô.

– Trecho do posfácio do livro RUR: Robôs Universais de Rossum.

rogério pietro

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