Virou moda dizer que “cada um tem a sua verdade”. Mas será que isso é verdade?
Vamos analisar a figura abaixo. Você já deve ter visto uma figura muito parecida circulando em redes sociais. Ela foi modificada para atender à análise que faremos.
Como mostra a figura, a sombra projetada na parede da esquerda é um quadrângulo. Já a sombra projetada na parede da direita é um círculo. Ambas as sombras são geradas por um objeto sólido, um cilíndrico.
Para o observador que vê apenas a sombra da esquerda, o objeto é um quadrado, enquanto que um observador que vê apenas a sombra da direita, o objeto é uma esfera ou um círculo. Logo, considerando que o objeto não é nem um quadrado e nem um círculo, os observadores ignoram a verdade. Portanto, tudo o que eles possuem são pontos de vista. Nenhum dos dois observadores tem propriedade para afirmar que seu ponto de vista representa a verdade.
No entanto, por mais incrível que isso possa parecer, tem surgido uma cultura muito perigosa e incorreta que pretende colocar na cabeça das pessoas que tanto o observador da esquerda quanto o da direita estão certos. Essa cultura afirma que o que eles estão vendo é “verdadeiro” (sinônimo de verdade), e que ninguém tem o direito de tirar deles essa certeza. Logo, o objeto pode ser um quadrado e um círculo ao mesmo tempo, e pode não ser um cilindro.
Essa é a cultura do “Cada um tem a sua verdade”.
Ela é provavelmente uma das ideias mais nocivas que já surgiram. E o perigo está justamente no estrago que ela faz nas conquistas científicas da Humanidade. Isso acontece porque, se cada um tem a sua verdade, a pesquisa da Ciência deixa de ter valor comprobatório e passa a ser mera opinião, o que é absurdo. Vamos aos exemplos.
Todas as análises sérias já feitas para determinar a forma do planeta Terra, todos os astronautas que já foram ao espaço, e todos os satélites já lançados ao espaço afirmam e demonstram que a Terra é esférica. Mas os terraplanistas afirmam que a Terra é plana, porque cada um tem a sua verdade.
Décadas de estudos, bem como inúmeros avanços técnicos, fizeram das vacinas um dos meios mais seguros e eficientes de prevenir doenças, o que se comprova por estudos clínicos controlados realizados exaustivamente. Mas os adeptos do movimento anti-vacinas afirmam que elas causam doenças e devem ser abolidas, porque cada um tem a sua verdade.
A evolução das espécies tem sido alvo de estudos incontáveis, e praticamente todos eles concordam que os seres vivos sofrem alterações físicas e comportamentais ao longo das eras, o que demonstra a evolução biológica. Mas os criacionistas afirmam que todos os animais surgiram como são, porque cada um tem a sua verdade.
Esses são apenas alguns exemplos mais gritantes de como essa cultura do “cada um tem a sua verdade” afeta negativamente a civilização. No caso das vacinas, isso é ainda mais horrendo, porque a parcela da população que cai nessa mentira não leva os filhos para vacinar, causando mortes por doenças que poderiam ser controladas e a volta de epidemias de doenças que já estavam controladas.
A questão é saber se essa ideia surgiu por causa da preguiça de estudar, do orgulho de não admitir um erro ou se ela foi plantada de propósito na sociedade com alguma finalidade. Vamos considerar essa última hipótese. Se ela for verdadeira, quem sai ganhando com ela? Em outras palavras, a quem interessa tirar da população a distinção entre ponto de vista e verdade? Quem se beneficia com isso?
Ora, um povo incapaz de distinguir o que é opinião e o que é verdade é um povo que pode ser facilmente enganado. Um político, por exemplo, pode dizer as maiores mentiras em sua campanha eleitoral, e também depois de se eleger, e enganar milhões de eleitores. Isso acontece porque o povo não é capaz de definir se as afirmações dele são mentiras ou verdade. E a situação continua mesmo depois que alguém demonstrar com provas que ele mentiu. Afinal, uma prova não é mais prova porque cada um tem a sua verdade.
Opinião não é a Verdade.
Ponto de vista não é a Verdade.
Crença não é a Verdade.
Somente a Verdade é a Verdade.